quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Fred Maia - Conto I



Sabia que na hora que a coisa começasse tudo fluiria na mesma sintonia, então ficava parado horas esperando saber o que tinha pra dizer. E não vinha nada. Mas acabou vindo o que veio. Feito enxurrada que não tem como ser contida. Deu tanto trabalho ficar decidindo as palavras que desisti. Não era por ali. A coisa é outra. Há que ser porque senão não será. E ia continuando no ensaio de soltar o instinto de fazer sem pensar em nada, só fazer. Sentia falta de uma ação mecânica, rabiscar as palavras afetando uma grafia toda especial pra o momento. Saudade de alguma vivência que não vivi. Brincar de ser inventivo, sair catando palavras como quem cata conchinhas no final da praia. Ou, quem sabe, inventá-las mesmo, colando um final diferente numa conhecida aqui, usar uma nova no lugar de outra ali. Assim ficava o produto dessa empreitada maluca: algo cartão vem servido em bandeja de prata enegrecida, quadras retorcidas retinem cansadas ilustres palestras, minimizados os efeitos colaterais. O sol. A fumaça negra marca a tola fatura submissa ao erro, quase a soletrar factóides farmácias em formas de discos semi plúmbeos na chuvosa manhã de novembro. Trazia no embornal a ambição desmedida domada, arrancada a custo, ora orgasmos descoloridos, ora escravo da paixão por pathos. Uma figura real em sua torre de marfim quando tudo é querer... now neva ao longe sobre o curral and as aves resignadas que aqui tomam chuva, crentes na ressurreição do pássaro salvador dali, sabem ser tarde demais: fez-se-lhes a luz!


 foto e colagem de Mércia Costa

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